terça-feira, 16 de setembro de 2014

[Conto] O Inimigo Sombrio: Capítulo 2 - Ofensiva Branca.

Segundo capítulo do Conto "O Inimigo Sombrio", as outras partes serão postadas com maior frequência no futuro. Curta nossa página do Facebook e compartilhe e leia os outros contos. 



2
OFENSIVA BRANCA

***

A brisa gélida continuou passando pelo meu rosto, olhei para frente contemplando a face do homem desconhecido que havia atacado o outro homem pálido. Era alto, tinha cabelos loiros e olhos azuis, traços finos completavam seu rosto, parecia maduro, na casa dos trinta anos e esbanjava uma boa forma física.
Fitei-o por alguns instantes, então ele começou a falar.
— Olá Jim, eu tenho muitas coisas para te contar, mas não temos muito tempo. — continuei encarando-o sem dizer nada, queria ouvir o que ele tinha a dizer. — Eu sou um anjo, Gabriel, você já deve ter ouvido falar de mim — disse esboçando um sorriso. — E não... não sou um louco. Os anjos existem, seres como, nós existimos. — falou sacudindo o dedo de mim para ele.
— Seres como nós? — perguntei completamente cético, já tinha ouvido muitas coisas estranhas, mas nada do jeito que ele disse.
— Sim, seres como nós. Jim você não é uma pessoa normal, digo, não é um ser normal...bem, resumindo, você é um demônio. Mas não um demônio qualquer. — disse levantando as mãos, como se pedisse que eu não fosse embora. — Você é um demônio especial, o mais especial para falar a verdade. Você é o filho de Lucífer.
— Tá bom cara. — disse me virando para ir embora — Gostei bastante dessa sua história.
Me virei e comecei a andar, por um segundo pensei que conseguiria ir embora, mas senti uma força sobre minhas pernas, uma força que eu não sabia de onde vinha. Ela se tornou maior, e mais forte, até não ser possível suportar e então eu cai.
— Viu só, eu sou um anjo Jimmy, não estou brincando. Agora escuta aqui. — A mesma força que tinha me derrubado pareceu retornar para minhas pernas, mas dessa vez me levantando. —Preciso garantir sua proteção. Não sei o motivo para Belial ter te atacado assim, isso não faz nenhum sentido, já que ele é o rei do inferno, não vejo porque te atacar.
— Ele é rei da onde? — perguntei sem acreditar, a força que me levantou foi real, então aquela história poderia ser real. — Você quer dizer que eu sou mesmo um demônio.
— Sim, eu disse isso. Aquele homem que estava te sufocando, ele é Belial, mas conhecido como o rei do inferno, pelo menos no período que Lucífer ficar preso. Se eu não tivesse aqui, imagine só o que teria acontecido.
À tarde a cada segundo se tornava mais noite, com seus raios alaranjados sumindo no horizonte. O vento ficava mais gelado e forte a cada segundo, e uma brisa vinda de leste balançou meus cabelos espalhando a neve que ainda estava presa.
Então como um susto que uma pessoa toma, Gabriel arregalou os olhos, como se acordasse de um horrível pesadelo durante a noite.
— Droga. — disse fechando os olhos, parecendo se deixar levar pelas sensações que o frio trazia. — Ele está vindo, e está com outros.
E dizendo isso avançou de súbito.
— Vamos Jim, corra!

***

Sem saber o que deixava Gabriel com tanto medo comecei a correr, passando em meio ao caminho do parque. Corria, mas a cada passo, meus pés pareciam se afundar mais na neve, me prendendo e me deixando mais lento.
Passamos pelo caminho e desembocamos num bosque, estava repleto de árvores brancas de gelo e sem nenhuma folhagem, o lago ao lado, estava cristalizado, imitando exatamente a imagem do céu.
Percebi diferentes explosões que aconteciam atrás de mim, uma, duas, três... elas cortavam o ar com uma brisa ainda mais gelada, fazendo a neve saltar e girar no ar.
— Não Fujam! — gritou uma voz grossa lá de trás — Não fuja Gabriel.
Então uma pedra de gelo, que tinha o formato de uma adaga passou zunindo a minha esquerda, indo em direção de Gabriel. Ele percebeu, girou o corpo da esquerda pra direita, se abaixando e se esquivando da adaga.
Mas aquilo não acabava ali. Uma saraivada de adagas de gelo cortou o ar, zunindo em todas as direções, como um ataque de arqueiros a um exército inimigo.
Me lancei ao chão e não acreditei ao ver Gabriel gesticulando, girando os braços formando uma espécie de redemoinho, que perecia se concentrar no centro, trazendo pequenos bloquinhos de neve, gelo e folhas secas.
As adagas se cruzaram com o bolsão de ar provocando uma explosão de vento para todos os lados, pedras de gelo voaram descontroladas encontrando e perfurando tudo no seu caminho, inclusive cortando a perna esquerda de Gabriel, que estendeu a mão, tampando o local do corte.
— Malditos demônios. — Bradou Gabriel encarando três demônios que vinham em sua direção, usavam casacos brancos e tinham em suas mãos muitas adagas feitas de gelo. — Partirei para cima deles, Jim. — disse voltando-se para mim. — Se eu morrer corra para um lugar onde há muitas pessoas, eles os inibirá.
E terminando de dizer isto, partiu correndo na direção dos inimigos. Surpresos, lançaram mais adagas, mas talvez pelo susto causado pela abrupta corrida, erraram, deixando-os desarmados e indefesos.
Gabriel se lançou mirando um soco no demônio do meio, acertou em cheio o soco que vinha da direita para a esquerda, derrubando-o na hora. Os outros saltaram para trás tirando das capas mais adagas, mas desta vez não as lançaram, mas as usaram como facas. Vieram os dois de uma vez cortando o ar, tentando acertar Gabriel, que desviava do corte com maestria.
Se afastou, esperando o próximo ataque dos demônios, o da direita que investiu, tentando enfincar a adaga no peito de Gabriel. Ele agarrou a mão do demônio e levantando rapidamente a perna, quebrando com facilidade o seu braço, derrubando sua adaga no chão. Levou a cabeça para trás, no tempo suficiente para desviar de mais uma investida que tentava mata-lo. Empurrou para trás um demônio, e fazendo um sinal com os braços lançou o outro ao chão.
— Vocês já deram trabalho demais. — disse Gabriel pegando a adaga derrubada pelo demônio. — Está na hora de acabar com vocês.
E com a adaga perfurou o peito do demônio que teve o braço quebrado, o sangue caia, manchando de rubro seu casaco branco, matando-o. O demônio que foi jogado no chão se levantou rapidamente criando mais uma adaga, pronta para atingir Gabriel. No impulso gritei:
— Gabriel cuidado! — Ele foi tão rápido quando fui para observar. Retirou a adaga fazendo jorrar sangue, e se virou lançando a pedra certeira na cabeça do demônio, que só pode arregalar os olhos, esboçar um gemido, levantar a cabeça e cair para trás, morto.
Tudo parecia tranquilo naquele momento, até mesmo o frio, antes intenso, agora parecia menos cortante. Meu coração batia ritmicamente em meu peito, minha respiração ofegava. Menos de um minuto atrás eu pensava que minha vida chegaria ao fim.
Gabriel fechou os olhos, e respirou profundamente.
— Quem eram aqueles homens que nos atacaram? — perguntei, desejando fugir mais que rapidamente daquele maldito parque.
— São demônios, provavelmente da guarda real do Inferno, alguns são mais leais ao rei do que ao deus deles. Um problema...um grande problema.
— E para onde vamos agora?
— Te levarei até perto de sua casa, eles provavelmente ordenaram alguns demônios para te proteger lá. Mas não poderei te escoltar até lá dentro. Não seria bom se eles achassem que você tem qualquer envolvimento com anjos.
Eu pensava o mesmo que o Gabriel, eu não queria ter qualquer envolvimento com anjos ou demônios, em meio a lutas e mortes eu ainda preferiria a minha vida normal de estudante.
De repente tudo mudou. Sem nenhum aviso os ventos começaram a soprar muito mais forte, a neve caia cada vez em maior número e a única conclusão que eu chegava era que uma tempestade de neve estava começando. A cidade onde eu morava havia sofrido muitas iguais a essa nas últimas semanas, desde o início do inverno, em algumas delas, a força da tempestade foi tão grande que as escolas tiveram que cancelar as aulas, aeroportos pararam suas atividades e muitos moradores desapareceram, sendo encontrados dias depois, congelados e enterrados em montes de neve.
Estar na rua no meio de uma nevasca era muito perigoso, mas isso só não era pior do que ver na sua frente explosões brancas, que cuspiam gelo e friagem para todos os lados, tornando pior a percepção do que estava acontecendo.
Senti a mão de Gabriel em meus ombros, me abaixei e vi que no mesmo lugar que as explosões tinham acontecido, alguns homens haviam se materializado, eram outros demônios, vindos com a mesma vontade assassina dos outros que Gabriel matara há poucos minutos.
— Temos um problemão garoto. — Gabriel mantinha os olhos fixos nos homens. — Belial veio pessoalmente dessa vez, e não veio sozinho.
Do lugar em que eu estava era difícil ver, principalmente pela neve que batia em meus olhos e atrapalhavam, mas do pouco que era visível percebi que um dos demônios usava roupas pretas. Eles vinham caminhando em nossa direção.
— Fique aqui. — disse Gabriel — Se eu mandar você correr você corre. Ok?
Assenti com a cabeça.
Gabriel se levantou, sacou uma adaga que tinha pegado anteriormente e foi caminhando lentamente em direção aos demônios, que se aproximavam.
— Gabriel seu enxerido. — disse uma voz cortante. — Eu não acredito que você esteja fazendo isso. Roubar ele de mim. — disse apontando em minha direção e balando negativamente a cabeça. — Eu achava que os anjos não faziam essas coisas, não eram vocês que viviam falando sobre pecados.
— O que você quer com isso Belial? — questionou Gabriel com autoridade. — Por que está atacando o filho do seu mestre?
— Esse merdinha ai, agora parece inocente, mas você não sabe o poder que está oculto dentro dele, será um grande problema quando aprender a controla-los. Eu avisei ao Lúcifer que isso era má idéia, tentei convencer os outros duques, mas como bons puxa sacos concordaram com tudo que o Diabo queria. E eu sabia o porquê. Eles não queriam se ajoelhar a mim por muito tempo, alguns deles até falam em consagra-lo como rei do inferno, rei do inferno? Esse projeto de demônio? Enquanto Eu tento manter aquela zona funcionando, enquanto eu sou o verdadeiro rei.
Belial falava com uma ira aparente, parecia gritar em algumas partes.
— Então para evitar problemas futuros — continuou Belial. — O matarei nessa noite, e colocarei a culpa em você. Duvido que alguém não acredite, é a história perfeita, depois de Miguel, você é o único anjo que eles temem realmente, é claro, sem contar os anjos da morte que devem colocar medo até em Deus.
Os demônios ao lado dele riram junto a Belial. Gabriel permaneceu estático, o olhar focado nos demônios, a expressão quase mortal, os braços tremendo, olhou em minha direção, fazendo minha espinha gelar pelo olhar quase mortal que ele lançava.
— Jimmy corra diretamente para sua casa. Não pare em lugar nenhum!
Permaneci parado por alguns segundos, Gabriel assentiu para mim, olhei uma última vez para os demônios e corri para longe dali o mais rápido que meus pés puderam permitir.
— Atrás dele. — bradou Belial a seus comandados. — Vão, agora!
— Não! — gritou Gabriel lançando suas mãos para frente fazendo os demônios caírem ao chão. — Insulte ele de novo seu demônio miserável! Insulte Deus de novo!
Olhei novamente e vi Gabriel correndo na direção de Belial, a adaga em punho e uma vontade assassina transbordando no peito.

***

Corri. Corri como nunca corri antes. As ruas desertas eram o cenário perfeito para uma fuga desesperada. Corria com mais intensidade, queria chegar a casa para contar ao meu pai tudo que acontecera no meu dia. Ele com certeza ficaria fascinado.
Meu Pai era um famoso escritor de livros de terror, seus livros de maior sucesso envolviam exatamente anjos e demônios. Ele era fascinado pelo assunto, e com certeza gostaria de ouvir meus relatos fantásticos.
Cruzei uma rua e entrei em uma avenida, paralela a minha rua, logo à frente. Muitos carros estavam parados, pessoas estavam fora dos automóveis olhando para um carro amassado logo à frente. Um carro preto, modelo esportivo, especialmente caro e desejado por pessoas que queriam ou precisavam impressionar, como dizia meu pai, ironicamente o modelo de carro que ele escolhera comprar.
De súbito um pensamento invadiu minha mente. Seria aquele o carro do meu pai?
Corri transpassando os curiosos, rapidamente cheguei perto do local do acidente. A visão fez minhas tripas se contorcerem, e todas as minhas células gritarem em uníssono.
Meu pai estava deitado no chão, sendo ajudado por uma equipe de paramédicos. Tinha a roupa branca manchada pelo rubro do seu sangue, o rosto não era visível, uma das pernas parecia estar esmagada.
Corri desesperado em sua direção. Um dos policiais me agarrou impedindo que eu chegasse a ele.
— Me deixa passar. — disse empurrando o policial para me soltar.
— Jimmy? — perguntou uma voz fraca, que atraiu a atenção de todos. Era meu pai. — É você?
O policia deixou que eu passasse percebendo que eu era o filho da vitima do acidente. Cheguei perto.
— Filho fiquei preocupado com você, já que não tinha chegado, a nevasca me preocupou ainda mais, então sai para te procurar... e então — mais uma pausa em que ele tossiu fortemente. — Bati o carro... mas que bom que você está bem, filho... que bom que você está bem.
Sua voz foi ficando cada vez mais fraca até cessar. Ele fechou os olhos.
Meu mundo desabou em uma única tarde de inverno. A noite mudaria não apenas minha vida, mas o futuro de todo o mundo, e até mesmo de todo o universo.

***

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